A ironia do olhar, de um olhar totalmente enamorado pela oportunidade
de viver, que transforma alusões a um qualquer segredo em algo de absolutamente
extraordinário. Faz dos outros peças únicas de narrativas incompletas que só
quem os vê pode terminar. Um olhar pode esmagar num canto um outro olhar mais
curioso, pode consentir ou até presumir, ler ou ocultar.
Um olhar pode ser esquerdo ou direito, pode permanecer ou fazer
desaparecer, pode até intimar ou castigar, dispensar ou amar, tudo isto apenas
com a ironia de um olhar.
A ironia do olhar pode produzir efeitos de causas diferentes
ou tentar distinguir entre as causas necessárias e as causas mais que
suficientes para ser olhado, pode preceder um outro olhar ou até ser ignorado, pode
provocar hiatos ou ser apenas uma maravilhosa epifania.
A ironia do olhar, pode ser científica ou banal, analfabeta ou
intelectual, pode ser até provável ou improvável, exata ou disforme, tudo isto
pode ser a ironia de um olhar.
A ironia do meu olhar pode ser tudo e nada, será sempre só
minha, aqui ou em qualquer outro lugar, de maneira ou forma diferentes, possível
e provável e tudo o resto que acerca dela pensem é pura ilusão.
Modifique-se o meu perfil considerando-me mais técnico, mais
perto da transcodificação dos outros olhares e talvez seja eu o editor de novos
meus olhares, mais aromáticos, menos duros, mais centrados na superfície dos
outros e menos no interior dos corpos, serei então eu a máquina capaz de
atenuar todos os efeitos negativos da exposição ao meu próprio olhar?
A atividade de permanentemente olhar é paradoxal com a condição
de humano, por um lado trai o próximo na medida que acultura os olhares dos
outros; mas por outro democratiza esta maneira nova de olhar, visto que expande
e penetra nos outros.
É esta a ironia do meu olhar olhada por mim, é este o meu
contributo para poder olhar o mundo de uma maneira própria mas de interesses comuns,
é este o paradigma da minha humilde existência, olhar apenas por olhar.
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