Não o faço porque não me quero submeter à obrigação das
palavras, gosto apenas de criar, de ser e voltar a ser apenas num sentido,
mesmo sem sentimentos ou sem apego às palavras, mesmo sem qualquer tipo de incumbência,
mesmo sem me sentir escravo do texto, não me submeto a isso.
Aqui há algum tempo, um dos vermes (daqueles que come tudo e
não come nada) que conheci nesta curta vida, disse a uns amigos comuns: - O Rogério
(eu) começa tudo e não acaba nada. Coitado, deve, por entre ofícios, sentir-se obrigado
a rimar, coitado, o rapazito começou tudo na vida e acabou tudo, até com a própria
vida acabará, coitado, condicionado ao trabalho não tem a coragem que teve Sócrates,
(o filosofo) O diálogo pode ser lido na “opus
magna” de Platão, “República”.
“Trasímaco após questionar Sócrates, impõem regras quanto à
forma da resposta, o que de facto pretende Trasímaco é condicionar o filósofo,
não permitir a explanação da sua argumentação, não deseja ouvir algo diverso do
que é a sua convicção, tem receio do que possa Sócrates dizer!
Impõem Trasímaco: “ […] vê lá homem, não me digas que são duas
vezes seis, nem que são três vezes quatro, nem seis vezes dois, nem quatro
vezes três, que eu não aceito tais banalidades […]”
Trasímaco perguntou a Sócrates quantas vezes são doze!
Sócrates demonstrou que assim não valia apena o esforço para
responder”. Mas eu respondo!
Não me condicionam, nem às palavras nem aos atos.
Há uns anos atrás, perante um grupo de formação e sujeito
aos jogos de quebra-gelo dos mandantes autoritários, todos, de algum jeito
ligados à psicologia, foi pedido que num espaço de um minuto escrevêssemos uma
frase curta sobre qualquer coisa, escrevi assim:
- Não escrevo nada condicionado à vontade dos outros!
Confusão total. Várias analises e depois de perceberem que
não valia a pena recusarem o contraditório. Resultado, fui chamado ao senhor
santo cristo para o beija-mão, claro que não beijei. Paciência, passei com nota
18. (acabei este).
Parmênides: “entendia o ser como sendo uno; as coisas eram
imutáveis, permanentes e não se desenvolviam”. Eu também. Contudo, hoje, sei
que tudo se move, tudo é efémero, e tudo se desenvolve, mas continuo a ser uno.
A graça está no tempo, 1000 A.C.. 30 Séc. depois só mudam as coisas metafísicas,
o ser continua o mesmo. Hoje, sou um ser uno-cínico, no sentido Antístenesiense
da palavra, (descrença na sinceridade ou bondade das motivações e ações humanas
e como caraterização de pessoas que desprezam as convenções sociais), sou eu, também.
Não vale a pena despender muito tempo com filosofias ou com descrenças
mortais, serve este, apenas par reclamar o meu direito à indignação, o mesmo
pelo qual o meu avô materno passou 12 anos preso, o mesmo pelo qual morrem
pessoas no corno de africa, o mesmo pelo qual se luta na asia.
Eu não rimo, não sei rimar, não me apetece ceder parte da
minha criatividade à palavra, desculpem-me os poetas, os filósofos. Privei com
alguns dos bons, Ramos Rosa, João César Monteiro, Agostinho da Silva, entre
outros. Todos eles, normalmente, não rimavam mas eram génios depois de Pessoa.
Mas eu respondo!
Respondo a todos os que se deixam escravizar pelas chaves rígidas
das palavras, dizia uma blogger conhecida: Ai meu deus! Todos eles acham que
sabem escrever, contudo, eu percebo-os logo é pela pontuação. Coitada, é mais
uma dos coitados, então a cachopa nunca leu Saramago? Tadinha. Acho que ela também
é doutora e anda embrenhada no meio de ofícios. (Recomendo “ O Ano da Morte de
Ricardo Reis”). Por falar em Reis, Carlos o Reis, claro, em entrevista ao JL, descasca
na UAb e parece-me com vontade de voltar. Será Professor? Espero o seu email, o
mesmo que nunca enviaria aos coitados, aos que acabam tudo. Abraço, para si,
forte claro.
Apetecia-me agora partilhar uma rima sem asserção nenhuma
mas, não tenho essa capacidade, a capacidade de vir a ser acometido pela
ditadura das palavras, de vir a ser criticado pela confusão mental instalada.
Talvez um dia edite um livro acerca dos coitados, hoje não.
Mas Respondo!
Acabei este.