segunda-feira, 30 de março de 2015

Porque não rimo?



Não o faço porque não me quero submeter à obrigação das palavras, gosto apenas de criar, de ser e voltar a ser apenas num sentido, mesmo sem sentimentos ou sem apego às palavras, mesmo sem qualquer tipo de incumbência, mesmo sem me sentir escravo do texto, não me submeto a isso.

Aqui há algum tempo, um dos vermes (daqueles que come tudo e não come nada) que conheci nesta curta vida, disse a uns amigos comuns: - O Rogério (eu) começa tudo e não acaba nada. Coitado, deve, por entre ofícios, sentir-se obrigado a rimar, coitado, o rapazito começou tudo na vida e acabou tudo, até com a própria vida acabará, coitado, condicionado ao trabalho não tem a coragem que teve Sócrates, (o filosofo) O diálogo pode ser lido na “opus magna” de Platão, “República”.



“Trasímaco após questionar Sócrates, impõem regras quanto à forma da resposta, o que de facto pretende Trasímaco é condicionar o filósofo, não permitir a explanação da sua argumentação, não deseja ouvir algo diverso do que é a sua convicção, tem receio do que possa Sócrates dizer!



Impõem Trasímaco: “ […] vê lá homem, não me digas que são duas vezes seis, nem que são três vezes quatro, nem seis vezes dois, nem quatro vezes três, que eu não aceito tais banalidades […]”



Trasímaco perguntou a Sócrates quantas vezes são doze!



Sócrates demonstrou que assim não valia apena o esforço para responder”. Mas eu respondo!

Não me condicionam, nem às palavras nem aos atos.

Há uns anos atrás, perante um grupo de formação e sujeito aos jogos de quebra-gelo dos mandantes autoritários, todos, de algum jeito ligados à psicologia, foi pedido que num espaço de um minuto escrevêssemos uma frase curta sobre qualquer coisa, escrevi assim:

- Não escrevo nada condicionado à vontade dos outros!

Confusão total. Várias analises e depois de perceberem que não valia a pena recusarem o contraditório. Resultado, fui chamado ao senhor santo cristo para o beija-mão, claro que não beijei. Paciência, passei com nota 18. (acabei este).

Parmênides: “entendia o ser como sendo uno; as coisas eram imutáveis, permanentes e não se desenvolviam”. Eu também. Contudo, hoje, sei que tudo se move, tudo é efémero, e tudo se desenvolve, mas continuo a ser uno. A graça está no tempo, 1000 A.C.. 30 Séc. depois só mudam as coisas metafísicas, o ser continua o mesmo. Hoje, sou um ser uno-cínico, no sentido Antístenesiense da palavra, (descrença na sinceridade ou bondade das motivações e ações humanas e como caraterização de pessoas que desprezam as convenções sociais), sou eu, também.

Não vale a pena despender muito tempo com filosofias ou com descrenças mortais, serve este, apenas par reclamar o meu direito à indignação, o mesmo pelo qual o meu avô materno passou 12 anos preso, o mesmo pelo qual morrem pessoas no corno de africa, o mesmo pelo qual se luta na asia.

Eu não rimo, não sei rimar, não me apetece ceder parte da minha criatividade à palavra, desculpem-me os poetas, os filósofos. Privei com alguns dos bons, Ramos Rosa, João César Monteiro, Agostinho da Silva, entre outros. Todos eles, normalmente, não rimavam mas eram génios depois de Pessoa. Mas eu respondo!

Respondo a todos os que se deixam escravizar pelas chaves rígidas das palavras, dizia uma blogger conhecida: Ai meu deus! Todos eles acham que sabem escrever, contudo, eu percebo-os logo é pela pontuação. Coitada, é mais uma dos coitados, então a cachopa nunca leu Saramago? Tadinha. Acho que ela também é doutora e anda embrenhada no meio de ofícios. (Recomendo “ O Ano da Morte de Ricardo Reis”). Por falar em Reis, Carlos o Reis, claro, em entrevista ao JL, descasca na UAb e parece-me com vontade de voltar. Será Professor? Espero o seu email, o mesmo que nunca enviaria aos coitados, aos que acabam tudo. Abraço, para si, forte claro.

Apetecia-me agora partilhar uma rima sem asserção nenhuma mas, não tenho essa capacidade, a capacidade de vir a ser acometido pela ditadura das palavras, de vir a ser criticado pela confusão mental instalada.

Talvez um dia edite um livro acerca dos coitados, hoje não. Mas Respondo!
Acabei este.