quarta-feira, 16 de julho de 2014

Namorando sério...






Namorando sério há um tempo você percebe:

Que não adianta lutar contra os monólogos on-line no MSN e nem com os longos minutos de ausência de papo, não espere que a pessoa venha lhe contar a programação do dia inteiro só para ter assunto com você. O MSN se resumirá a um mero sistema de recados, smiles aleatórios intercalados de alguns elogios amorosos rápidos e compactos e troca de arquivos.
Que muitas vezes não adiantará caprichar nos seus argumentos, provando por A + B os seus motivos, utilizando os recursos da estatística e da lógica, combinados tudo com a física quântica para explicar à sua namorada porque está cabra com ela. Pois constatará mais cedo ou mais tarde que você possui surtos psíquicos crônicos de falar outras línguas em momentos que coincidem com as brigas de vocês.
Que muitas vezes é difícil conciliar seus momentos de inspiração amorosa com os dela, mas que quando isso acontece é muito valoroso.
Aprende que no que se refere às palavras ditas, nem sempre o que vale é a intenção.
Aprende que medo de perder é errado, mas também que quando se perde o medo de vez, tem coisa errada.
Aprende que o problema não é a concorrência dar trela pra sua namorada, mas sim a sua namorada dar trela pra concorrência.
Que não entende a dificuldade de aceitação dela do conceito “apenas amigos” no que se refere a outras mulheres, independente de compromissadas ou não. Mas ela (creio que mulher também e no caso compromissada) possui boas e velhas amigas demandando uma grande cota de atenção.
Você se pegará projetando os pensamentos para o futuro de vocês de um modo nunca d’antes feito.
Perceberá que motel de 40 euros pra cima é um luxo desnecessário e sábado a partir das 22:30 H é mais fácil ganhar na loteria.
Cometerá o pecado de quando receber um agrado depois de um longo período de conflitos tem 2 possíveis reações: ficar extasiado querendo mais e mais e mais e mais e ficar doente por carência... Ou simplesmente se perguntar o que está acontecendo com ela.
Você aprende a inacreditável experiência de que às vezes é possível passar o fim de semana sem ver sua namorada sem necessariamente ter brigado com ela.
Descobrirá que é possível abrir mão de ler o livro Por Que Os Homens Fazem Sexo e As Mulheres Fazem Amor? De Allan e Bárbara Pease, apenas conversando com alguns amigos.
Descobrirá que 5 anos nem é tanto tempo assim pra se ficar solteiro.
Refletirá como deve ser bom ter alguém te esperando em casa quando você chegasse do serviço...
Continuará a se frustrar esperando que ela fizesse alguma surpresa pra você sem ter datas comemorativas ou especialidades.
Perceberá que a tese de aparecer mil casais fofos à sua frente justamente nos dias que você está brigado ou com saudade dela é uma verdade.
Descobrirá que seus gostos musicais podem-te surpreender.
Perceberá que ir a baladas de pista de dança só você e a sua namorada é algo complicado, mas quando dá certo é muito proveitoso.
Continuará a vivenciar o chavão de mentir falando que está tudo bem, mas que na verdade não está.
Continuará se apegando a pequenos gestos de carinho.
Continuará a vivenciar o texto do ilustre desconhecido que diz que muitas vezes nós preferimos uma mulher que nos passe a mão pela cara ao invés de nos satisfazer, permanentemente, na sexualidade.
Continuará a se aborrecer por questões que elas não entenderão e você continuará a ter preguiça e ao temos tempo achar um despautério ter que explicar seus aborrecimentos, coisas que pra você são tão simples, mas pra elas é tão complexo.
Perceberá que nenhum homem gosta de se sentir desprestigiado e cobrar atenção é algo doloroso a se fazer.
Entenderá de fato o texto de Shakespeare: “Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma.” “(...)E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.”
Compreende a existência do machismo fanático, mas vê que tudo isso é uma furada, pois também não somos fáceis de lidar.
Aprenderá que o fato de alguém te amar, não é um fator considerável se não está vinculado com a sua felicidade também.
Mas você também aprende que apesar de não existir princesa encantada isso não impede que fique encantado por sua namorada.
Aprende também que todas as turbulências são válidas e que sem elas talvez você não teria noção do que conquistou e cuida para manter, que é o relacionamento de companheirismo e cúmplice.

Veronica Shoffstall e R. Guedes (adaptado)



segunda-feira, 7 de julho de 2014

Uma alma amante e terna




Jamais houve alma mais amante ou terna do que a minha, alma mais repleta de bondade, de compaixão, de tudo o que é ternura e amor. Contudo, nenhuma alma há tão solitária como a minha — solitária, note-se, não mercê de circunstâncias exteriores, mas sim de circunstâncias interiores. O que quero dizer é: a par da minha grande ternura e bondade, entrou no mau carácter um elemento da natureza inteiramente oposto, um elemento de tristeza, egocentrismo, portanto de egoísmo, produzindo um efeito duplo: deformar e prejudicar o desenvolvimento e a plena acção interna daquelas outras qualidades, e prejudicar, deprimindo a vontade, a sua plena acção externa, a sua manifestação. Hei-de analisar isto; um dia hei-de examinar melhor, destrinçar, os elementos que constituem o meu carácter, pois a minha curiosidade acerca de tudo, aliada à minha curiosidade por mim próprio e pelo meu carácter, conduz a uma tentativa para compreender a minha personalidade.


Fernando Pessoa, in 'Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação'