sexta-feira, 31 de maio de 2013

Frases (que podem vir a ser) famosas.



Jamais te coloques fora de ti próprio/a.
Seres é o mais importante que podes mimosear ao mundo e aos que te circundam.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Sei Bem



“Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.”
Fernando Pessoa

quarta-feira, 8 de maio de 2013

O camarada Seabra.




Seabra de seu nome, funileiro de profissão, artífice, malandro, boémio mas leal, sempre leal.
Conheci-o no início dos anos 80, era velho, já muito velho à altura uns 80 e tal anos, tez negra aquecida pelo gás que o maçarico libertava, rugas a condizer, estatura mediana, coluna consumida pelo vício do trabalho, na voz a temperatura da fusão do metal e na expressão a dureza da privação da liberdade que a policia politica lhe impôs. Companheiro de Cunhal, companheiro de meio mundo, companheiro da imperfeição e da autonomia, companheiro dos sofridos, companheiro dos pobres, amante confesso do Avante, bíblia do partido.
 De cigarro ao canto da boca falava sem mais parar, contava coisas que só ele sabia, sabia de história, geografia, musica, poesia, conhecia todos os escritores revolucionários, tratava as obras de Marx por tu, ensinava-me frases dos antigos filósofos e recitava frases dos que mais gostava, perdia horas a ouvi-lo a espaços interrompido pelo estalo do maçarico que com carinho moldava a chapa acompanhado de um “chega-te mais para trás”, a distância era sempre a mesma era o vício de acarinhar, de estar sempre preocupado com os outros, de ser pai do mundo.
Dele, nunca ninguém conheceu família, dizia-se que tinha casado com o partido e que os seus filhos eram os camaradas mais novos, dentro do partido foi pai de muitos sim, avô de outros tantos e fiel camarada da multidão.
Aos poucos ia-me impingindo os panfletos que guardava numa mala preta de asas estaladas pelo tempo e atolada de informação comunista, tinha-lhe ficado o jeito de ler, único passatempo prisional, mesmo esse era sonegado e comprado a troco de uns favores de passar familiares fronteira a dentro para fugirem à guerra do ultramar, ele sabia isso tudo, ele estava lá, foi lá que conheceu o meu avô, Zé Guedes, foi lá que provou a tortura, o gosto das mãos amargas da pide (a letra pequena é de propósito), o frio das marés, a privação do sono entre outras coisas.
Entre uma ponta de beata ardida e outra a arder no canto da boca, falava-me da vida que não teve contando-me apenas tudo o que viveu, à altura de pouco me servia, fascinava-me antes as historias que contava ou a cultura que eu tentava absorver, hoje, vejo um homem profundamente marcado como todos os comunistas militantes o foram, hoje, sinto nos beiços o gosto dos sulfatos libertados pela fusão da capa, e o cheiro ao acido na ponta do maçarico e tenho saudades do velho Seabra. Um abraço camarada.

A "Boneca" e o " Bacano"

O "Bacano" com um dia.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Azinhaga




Poisado lá está o Zé, fatigado de tanto esperar lá está o Zé, de costas para o Almonda lá está o Zé, para sempre lá está o Zé…

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Eu sou dislésico



Eu sou dislésico, descobri-o em idade tenra, era aida caçoila tinha os meus 8 anos, disse ao professor Neves que lhe expetava um pau pelo cu acima caso a besta me desse com a régua, fui de imediato chamado ao diretro, o Lucas era quebrado deveria ter um tomate do tamanho de uma cabeza, calzas com suspenzórios a condeser, a mesma camisa branba de sempre. Disse-me em ton grave e serio, rapas aqui só tens duas hipóteses, ou te portas bem ou levas na cara, optei pela segunda, sendo que, a cara era a mão direita. Tentei ainda, em meu abono, esplicar e que eu era dislésico, que tinha sido o medico que o teria dito à minha mae, que por sinal é, também ela, dislésica, em grau mais elevado do que eu, não resultou, disseme que la na escola essas coisas se curavam à base de porrada e da privazão do tempo destinado ao recreio. Foda-se, disse-lhe eu, mas será que você não sabe o que é ser dislesico? Sim sei respondeu a besta mor na presença da besta, sei bem menino queres ver? Anda cá, caguei-me todo pensava que o cabrao ia tirar as calzar e mostarr o culhao que era alvo da curiosidade de uma escola inteira, não foi, mostrou-me um ponteiro de madeira que rapidamente poizou mesmo no meio dos meus olhos sendo a parte posterior da cabeza a que ficou mais esposta á criatividade do pedaço de madeira, três canadas depois entendi que ser ou não dislesico só interessava no consultório do Doutor que já não sei o nemo.
Anos passarame veio o liceu, os professores, gente mais perparada que a besta do Neves ou do que da besta mor o Lucas, já sabiam o que era ser dislesico mas perdoavam muito pouco, o meu primeiro professor de português era tao porco que se sentava em cima das carteiras e piedava-se mesmo na frente dos alunos esbozando um ténue sorrizo, não me lembro do nome desta nova besta, mas deserto que não seria António, pois esse é o nome do meu pai e nunca o ouvi dar um piedo. Lembro-me de lhe esplicar que entre outras coisas eu torcava os “x” com os “s” e os “s” com os “z” ou até as posisões ods “érres” ou ainda pior a ordem das letras nas palavasr, ao que o animal respondeu qualquer coiza do tipo, isso na oralidade não tem importância mas na escrita tem muita, pensei, outra besta eu na oralidade não falo assim como ocebolinha, calro que é na escrita que me fodo. Tentei ainda, em meu abono, diser-lhe que poderia traser um papel do médico a comprovar a coisa, que não era presiso que logo se veria, perguntei-lhe veria, ouvia ou escervia? Fui para rua.
E assim fui de ano em ano até à faculdade anos mais tarde, já homem com filhos e barba branca, e foi então que nunca mais dise nada a ninguém acreca de ser dislesico poruqe apareceram os coretores ortográficos, nomeadamente este em que escrevo o Wods da Micorsoft e isto agora é uma maravilha.
Vivam os acrodos e os coretores.