domingo, 14 de setembro de 2014

LIxo Átono



Nunca me imaginarei vazio, vazio sem o deleite do meu corpo aquecido pelo som do silêncio à minha volta, à volta de um sussurro, sem um travesseiro para partilhar, um cheiro, um sentir, um paladar. Sempre me imaginarei aproximando-me de mim mesmo, avezado a estar só num sufoco onde sempre estou, a razão de eu nunca ter sido, inexplicavelmente, uma pureza celeste ou a derrota de mim.
Vejo-me pisando destroços de mim entre gerações e lixo átono, pisando o descanso da minha sombra, cansado de outras voltas dadas pela vida plena de mentiras e atrocidades conscientes.
Desesperado sinto, aliso o meu corpo e nele alivio a minha vontade de morrer, vigio as minhas olheiras tropeçando na realidade das situações, afago um xantelasma e adormeço a minha voz. As palavras são aquilo que eu não quero dizer.
Vigiando este estado latente de emoção, contorno a vontade de partir e amo a triste realidade de existir, sinto-te a cada movimento dúbio e tenso do meu cadáver e com ele vivo e me deito esperando o sol, circunstancia de coisa alguma, vontade emergente, ocasionalmente modesta e banal, alma de poeta frágil e tenso, constante interminável da vida.
Ensinaste-me a magia do sonho e fizeste-me acreditar que era real, contudo sou figura deste presépio de natal que estaticamente recordará, ano após ano, mais uma viagem ao destino impossível. Tilinto por dentro de um corpo encarnado em mim e com ele vagueio nas ondas dos teus sentidos.
Afasto-me da dura realidade, da verdade plantada na percepção do impossível e viverei segundo as regências do eternamente impossível.
Devo o dever indeclinável de me amar, sempre na esperança de morrer antes de te ter na plenitude, sinto-me fraco de alma e forte de espírito, sinto o ritual da paixão inexplicável por mim, ignoro-o, sempre com pensamentos inapropriados, anti naturais, descarregados entre as confissões de mim e as de outro alguém.
Fecho os olhos e vou sonhar na melhor maneira de pensar em escrever alguma coisa, que acaba por não dizer coisa alguma.

sábado, 13 de setembro de 2014

Artefacto



Hoje entendi que a merda da vida se resume a um estupido artefacto mecânico a que chamam tapete rolante, por vezes vamos para a frente, outras para trás, mas acabamos sempre por uma das vezes não voltarmos…