quarta-feira, 24 de julho de 2013

Corre(c)tor



Eu uso corretor, sim uso. Há quem use Control, Tri-minulet ou Diu, eu uso corretor, um dos pirateados que de quando em vez deixam passar erros ortográficos.
O meu corretor já está preparado para o novo acordo, para isso e para muito mais;
 É à prova de sentimentos, não consegue reconhecer palavras como amor, paixão, romance entre outras;
Não entende expressões como: espero-te, amo-te, quero-te entre outras;
 É à prova de líquidos, já por diversas vezes o deixei cair dentro de garrafas inteiras de uísque, entre outras, e nada lhe aconteceu;
É agressivo no trato, reage sempre que é desafiado, entre outras, um dia estragou-me um conjunto de 364 palavras descrevendo a minha frieza;
O meu corretor acompanha a minha falta de capacidade de escrever bem, como dizia uma pessoa, ainda há pouco amiga:
- Tu não sabes escrever sem corretor.
Sabes, é verdade, antes utiliza-lo e brindar os outros com a escrita de um quase analfabeto do que não escrever nada, não escrever é não sentir, é estar castrado (a) de uma vida dupla, é estar submetido às escritas dos outros, sem motivo aparente de existir, eu escrevo, com corretor mas escrevo.
R. Guedes pratica, assim, a alteridade. Os seus textos permitem a presença do outro, do outro texto. Talvez não seja ousadia nenhuma dizer que R. Guedes vergou os seus textos para aceitarem a presença do outro” Carlos Castilho Pais acerca do autor.
Na verdade escrevo partindo de um pressuposto de que todo o ser humano interage, permitindo a uma nova sociedade ativa permanecer viva nas mentes dos outros, não tenho qualquer tipo de verecúndia, não possuo o iluminismo de ver o mundo todo numa perspetiva oral, entendo-me com os sentidos mesmo que por vezes sem logicas nem relações pensantes com as realidades, por isso, uso o corretor.
Barthes declara, "A morte do autor é o nascimento do leitor."
Tens razão, não sei escrever sem corretor…
Terei de morrer, para me leres sem corretor.
Pena não ter sido poeta, a esses toda a merda é permitida, os neologismos inventados pelos índios ou pelos africanos, unicamente deformando a escrita que lhe era inalcançável, na oralidade que dificilmente dominavam, escreviam como falavam e falavam aglutinado silabas de maneiras musical, hoje, usados por grandes poetas mundiais, prémios Nobel, vistos pela maioria dos mortais como invenções incríveis de pessoas incríveis, caríssimos, foram inventados por analfabetos como eu, antes mesmo de existirem corretores, os que eu agora uso.  
Termos utilizados para descrever diferentes formas de pensar sobre o criador do texto. Autor é o tradicional conceito de conceber uma determinada pessoa criando um trabalho de literatura ou qualquer trabalho escrito apenas pelo poder de sua imaginação.” Perspetiva de Roland Barthes acerca da produção literária.
Pena não ter sido poeta, desses que fazem poemas de amor, mesmo sem sentirem metade do que escrevem, fazem-no para vender livros que, a custo e com dinheiros emprestados, conseguiram editar, poesia, é como a minha escrita, má sem corretor…
Há quem use Control, Tri-minulet ou Diu, eu uso corretor.

Sem comentários:

Enviar um comentário