terça-feira, 9 de abril de 2013

Gente gira, gente boa.



Ia a passar apenas por passar, sem rumo nem destino, sem nada mais a não ser o pensamento vazio que me transportava, parei, senti o cheiro a maresia emanado da banca da Catarina, meti-me com ela:
Tás boa? Dá cá um beijo.
 Ando à rasca aqui das cruzes (indicava com a mão a zona dos rins), mas do resto vou andando. (Falava enquanto retribuía o beijo).
 Olha lá cachopa posso meter o dedo para ver se é fresco? Disse já com o indicador em riste na direção de um pargo mulato. A observação tinha um só fito, provocar.
 Olha lá meu paneleiro, quando vais às meninas também metes o dedo para ver se são frescas?... Olhos abertos na minha direção…
 Apeteceu-me tanto contrariar a verdade e responder-lhe afirmativamente, até com pormenores de requinte entregues à causa das meninas.
Detesto que me respondam com perguntas, encala-me a alma esse tipo de outros, os que não têm opinião, que não respondem objetivamente à pergunta.
No tempo mediado entre a pergunta e a resposta apregoava:
 Ó freguesa olha a bela pescada, não vai nada hoje menina?
 Não, eu não vou às meninas, caso fosse era gajo para solicitar a introdução do mindinho e leva-lo humildemente perto da penca, sim disso era capaz.
 Não venhas para aqui armado em doutor com palavras caras que já sabes que te mando logo pró caralho.
 Deu-se-me um arrepio nos tendões de Aquiles que até cresci dois centímetros.
 Eu hoje estou a dar o peixe, não vai nada freguesa?
Sabes, não fosses tu da idade da minha mãe e mandava-te eu antes. Olha lá mas posso ou não?
 Não caralho quem mexe aí (no pescado) sou só eu.
 Tá bem mulher não te chateies, como está o Chico?
Sei lá do Chico, passa as manhas a fazer comer para os cães e as tardes a dormir mais o caralho do homem e quem se fode a trabalhar que nem uma vaca sou eu e já sem aguentar. Então mas a tua filha não te ajuda?
 Essa? Essa quer é pichota e dormir como o pai, isto aqui ninguém quer saber disto, olha lá filho, dá-me aí um jeito aos pargos, manda-mos cá mais para cima para se verem melhor.
 Dei.
Afinal não és só tu quem mexe no peixe…
 Ó pá se cá vieste para me dares um beijinho estás bem, agora se foi para me foderes a cabeça podes ir embora.  Vim só para te dar o beijinho sim.
 Bj;bj.
…e fui-me embora…

2 comentários:

  1. Ah ah ah ... é o que dá ir provocar quem trabalha.
    Muita sorte tiveste tu em não levar com um pargo na cara!

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  2. Com uma narrativa tão bem contada, já ali estou nos seguidores.:)

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