Ia a passar apenas por passar, sem rumo nem destino, sem nada
mais a não ser o pensamento vazio que me transportava, parei, senti o cheiro a
maresia emanado da banca da Catarina, meti-me com ela:
Tás boa? Dá cá um beijo.
Ando à rasca aqui das
cruzes (indicava com a mão a zona dos rins), mas do resto vou andando. (Falava
enquanto retribuía o beijo).
Olha lá cachopa posso
meter o dedo para ver se é fresco? Disse já com o indicador em riste na direção
de um pargo mulato. A observação tinha um só fito, provocar.
Olha lá meu paneleiro,
quando vais às meninas também metes o dedo para ver se são frescas?... Olhos
abertos na minha direção…
Apeteceu-me tanto
contrariar a verdade e responder-lhe afirmativamente, até com pormenores de
requinte entregues à causa das meninas.
Detesto que me respondam com perguntas, encala-me a alma esse
tipo de outros, os que não têm opinião, que não respondem objetivamente à
pergunta.
No tempo mediado entre a pergunta e a resposta apregoava:
Ó freguesa olha a bela
pescada, não vai nada hoje menina?
Não, eu não vou às
meninas, caso fosse era gajo para solicitar a introdução do mindinho e leva-lo
humildemente perto da penca, sim disso era capaz.
Não venhas para aqui
armado em doutor com palavras caras que já sabes que te mando logo pró caralho.
Deu-se-me um arrepio
nos tendões de Aquiles que até cresci dois centímetros.
Eu hoje estou a dar o
peixe, não vai nada freguesa?
Sabes, não fosses tu da idade da minha mãe e mandava-te eu
antes. Olha lá mas posso ou não?
Não caralho quem mexe
aí (no pescado) sou só eu.
Tá bem mulher não te
chateies, como está o Chico?
Sei lá do Chico, passa as manhas a fazer comer para os cães e
as tardes a dormir mais o caralho do homem e quem se fode a trabalhar que nem
uma vaca sou eu e já sem aguentar. Então mas a tua filha não te ajuda?
Essa? Essa quer é
pichota e dormir como o pai, isto aqui ninguém quer saber disto, olha lá filho,
dá-me aí um jeito aos pargos, manda-mos cá mais para cima para se verem melhor.
Dei.
Afinal não és só tu quem mexe no peixe…
Ó pá se cá vieste para
me dares um beijinho estás bem, agora se foi para me foderes a cabeça podes ir embora. Vim só para te dar o beijinho sim.
Bj;bj.
…e fui-me embora…
Ah ah ah ... é o que dá ir provocar quem trabalha.
ResponderEliminarMuita sorte tiveste tu em não levar com um pargo na cara!
Com uma narrativa tão bem contada, já ali estou nos seguidores.:)
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