segunda-feira, 4 de novembro de 2013

LÍNGUA TRIPEIRA




A Gramática
Fonética, morfologia e Sintaxe

A gramática da língua tripeira, dialecto que também pode ser designado por tripeiro, é, no essencial, a da língua portuguesa, especialmente no que diz respeito à morfologia e à sintaxe. Quanto à fonética, as diferenças são consideráveis.
Vamos, de seguida fazer breves comentários sobre estas questões, mas a primeira e mais importante regra de aprendizagem é a prática, razão que nos levou ter, previamente, apresentado um texto e, só agora, abordar, embora superficialmente, a gramática.
Peguemos num exemplo que nos poderá ajudar:
Português: Vêm, ou não vêm?
Tripeiro: Se vindes, vindes; se não vindes, fodei-vos!
Se repararmos com atenção, verificamos que o tripeiro mantém a segunda pessoa do plural, enquanto o português começou a utilizar a terceira. Esta é a primeira questão a ter em conta. Também na pontuação poderá haver diferenças, sobretudo com o ponto de interrogação, já que o tripeiro afirma frequentemente em vez de fazer a pergunta directa.
Mas a grande diferença está, efectivamente, na pronúncia e no vocabulário. O tripeiro corrente é muito mais vivo e usa mais o vernáculo do que o português corrente.
Qualquer das línguas usa “apoios” na linguagem corrente, mas a tradução não é directa e só se consegue aprender com sensibilidade e prática. Enquanto dizemos em português: “Bom, vamos lá ver!”, em tripeiro poderemos dizer: “Vamos lá a ver, caralho”. O apoio “bom” é traduzido por “caralho”, sendo que esse mesmo apoio passa do início para o fim da frase. Ao contrário do que se pensa, o tripeiro não usa a palavra “carago”, (ou muito raramente a usa), para apoio final, mas a que indicámos que, eventualmente, pode ser substituída por “porra”.
Há muitas frases idiomáticas. Em anexo serão apresentadas algumas. Para já, atente-se neste exemplo: “O Grande Porto”. Esta expressão não tem nada a ver com um território, à semelhança de “A Grande Lisboa”. Em tripeiro significa, pura e simplesmente, “Futebol Clube do Porto”.
Aproveitamos para chamar a atenção de uma curiosidade: a palavra “Ésseélebê” é traduzida para tripeiro por “Benfica”, mas na gíria das claques diz-se “filhos da puta”!
O restante, como ficou dito, só com a prática será assimilado.
Quanto à fonética, deveremos ser cuidadosos no seu estudo, sob pena de não sermos entendidos ou de sermos acusados de ter um sotaque do Sul, o que é muito mau. Voltamos à nossa frase inicial, apresentando a respectiva transcrição fonética: “se bindes, bindes; se não bindes, fodei-bos!”
Regra: (que muito irrita os nortenhos que a negam e dizem, sem razão que só em Viseu é que se fala assim): O nosso “b” soa em tripeiro como “v”, sendo que o nosso “v” se pronuncia “b”.
Mais alguns exemplos essenciais a ter em conta (apresentamos em primeiro lugar o som em português e, de seguida, o seu equivalente em tripeiro):
- Ão = oum. Exemplo: cão = coum.
- Ãe = anhe. Ex: mãe = manhe
- som ô = ou. Ex: boa = boua
- I = ei (nos sufixos em inha). Ex: Amarrotadinha = amarrotadeinha
- Ou em final de palavra pode soar = “oue” ou “oua”, conforme as zonas. Assim, se lhe atenderem o telefone ouvirá “’stoua” (o “a” soando como em “camisa”) ou “’stoue” (o “e” soando como em “se”.
Dado o carácter elementar deste estudo vamos parar por aqui, não sem que acrescentemos, ainda uma informação importante: Com pequenas variações, o tripeiro é falado no Porto e todo o Douro Litoral e, ainda na Galiza, nos seguintes distritos: Viana do Castelo e Braga.
No anexo vai ver a transcrição fonética essencial porque a verdadeira pronúncia é insusceptível de transcrição total.
O texto agora enviado como anexo, na página seguinte, servirá para cada discípulo poder familiarizar-se melhor com o tripeiro, podendo simultaneamente meter-se com o femeaço nortenho que é do melhor. Não tentem armar-se em importantes, falando em português, se não querem correr o risco de ouvir um “olha m’este armado num xic’esperto do caralho. Bai-te foder, mouro da merda”!
(Autor desconhecido)

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