A Gramática
Fonética, morfologia e Sintaxe
A gramática da língua tripeira, dialecto que também pode ser
designado por tripeiro, é, no essencial, a da língua portuguesa, especialmente
no que diz respeito à morfologia e à sintaxe. Quanto à fonética, as diferenças
são consideráveis.
Vamos, de seguida fazer breves comentários sobre estas
questões, mas a primeira e mais importante regra de aprendizagem é a prática,
razão que nos levou ter, previamente, apresentado um texto e, só agora,
abordar, embora superficialmente, a gramática.
Peguemos num exemplo que nos poderá ajudar:
Português: Vêm, ou não vêm?
Tripeiro: Se vindes, vindes; se não vindes, fodei-vos!
Se repararmos com atenção, verificamos que o tripeiro mantém
a segunda pessoa do plural, enquanto o português começou a utilizar a terceira.
Esta é a primeira questão a ter em conta. Também na pontuação poderá haver
diferenças, sobretudo com o ponto de interrogação, já que o tripeiro afirma
frequentemente em vez de fazer a pergunta directa.
Mas a grande diferença está, efectivamente, na pronúncia e
no vocabulário. O tripeiro corrente é muito mais vivo e usa mais o vernáculo do
que o português corrente.
Qualquer das línguas usa “apoios” na linguagem corrente, mas
a tradução não é directa e só se consegue aprender com sensibilidade e prática.
Enquanto dizemos em português: “Bom, vamos lá ver!”, em tripeiro poderemos
dizer: “Vamos lá a ver, caralho”. O apoio “bom” é traduzido por “caralho”,
sendo que esse mesmo apoio passa do início para o fim da frase. Ao contrário do
que se pensa, o tripeiro não usa a palavra “carago”, (ou muito raramente a
usa), para apoio final, mas a que indicámos que, eventualmente, pode ser
substituída por “porra”.
Há muitas frases idiomáticas. Em anexo serão apresentadas
algumas. Para já, atente-se neste exemplo: “O Grande Porto”. Esta expressão não
tem nada a ver com um território, à semelhança de “A Grande Lisboa”. Em
tripeiro significa, pura e simplesmente, “Futebol Clube do Porto”.
Aproveitamos para chamar a atenção de uma curiosidade: a
palavra “Ésseélebê” é traduzida para tripeiro por “Benfica”, mas na gíria das
claques diz-se “filhos da puta”!
O restante, como ficou dito, só com a prática será
assimilado.
Quanto à fonética, deveremos ser cuidadosos no seu estudo,
sob pena de não sermos entendidos ou de sermos acusados de ter um sotaque do
Sul, o que é muito mau. Voltamos à nossa frase inicial, apresentando a
respectiva transcrição fonética: “se bindes, bindes; se não bindes, fodei-bos!”
Regra: (que muito irrita os nortenhos que a negam e dizem,
sem razão que só em Viseu é que se fala assim): O nosso “b” soa em tripeiro
como “v”, sendo que o nosso “v” se pronuncia “b”.
Mais alguns exemplos essenciais a ter em conta (apresentamos
em primeiro lugar o som em português e, de seguida, o seu equivalente em
tripeiro):
- Ão = oum. Exemplo: cão = coum.
- Ãe = anhe. Ex: mãe = manhe
- som ô = ou. Ex: boa = boua
- I = ei (nos sufixos em inha). Ex: Amarrotadinha = amarrotadeinha
- Ou em final de palavra pode soar = “oue” ou “oua”,
conforme as zonas. Assim, se lhe atenderem o telefone ouvirá “’stoua” (o “a”
soando como em “camisa”) ou “’stoue” (o “e” soando como em “se”.
Dado o carácter elementar deste estudo vamos parar por aqui,
não sem que acrescentemos, ainda uma informação importante: Com pequenas
variações, o tripeiro é falado no Porto e todo o Douro Litoral e, ainda na Galiza,
nos seguintes distritos: Viana do Castelo e Braga.
No anexo vai ver a transcrição fonética essencial porque a
verdadeira pronúncia é insusceptível de transcrição total.
O texto agora enviado como anexo, na página seguinte,
servirá para cada discípulo poder familiarizar-se melhor com o tripeiro,
podendo simultaneamente meter-se com o femeaço nortenho que é do melhor. Não
tentem armar-se em importantes, falando em português, se não querem correr o
risco de ouvir um “olha m’este armado num xic’esperto do caralho. Bai-te foder,
mouro da merda”!
(Autor desconhecido)
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